Antes do Padre Marcelo Rossi, surgir na mídia alcançando picos de audiência em programas de rádio e televisão, um outro sacerdote conseguiu atrair milhares de fiéis, também com um estilo diferente de comunicação. Certamente, o velho padre redentorista, Vitor Coelho de Almeida, que acaba de ganhar um Memorial no centro velho de Aparecida, foi um os precursores do jovem Rossi.
Há um contraponto interessante entre eles. Representante de uma nova imagem da igreja católica para o próximo milênio, Marcelo Rossi é carismático, bonito e atlético. O velho padre viveu até aos 88 anos com apenas um pulmão, depois de passar sete longos anos internado com tuberculose num sanatório em Campos do Jordão. Marcelo rossi, líder do movimento da Renovação Carismática, é procurado por milhares de pessoas que buscam a cura para todos os tipos de males. O velho sacerdote, ainda em vida, já era chamado de "santo padre".
O padre Marcelo Rossi costuma agitar suas missas com cantorias e danças que chama de "aeróbica do senhor", uma estratégia para atrair católicos e evitar a fuga de fiéis para outras seitas religiosas, que já usavam do mesmo artifício para empolgar os seus adeptos. O velho padre, mineiro de Sacramento rezava a missa convencional, sem coreografias, mas nem por isso deixava de arrebentar os peregrinos com palavras simples, objetivas e às vezes até grosseiras.
"Nada de ir atrás da bananeira... construam a latrina", dizia ao povo da roça em seus programas de rádio, ao ensinar regras básicas de higiene e saúde. Foi intitulado pelos colegas de batina de "comunicador das multidões" e chamado pelo irmão José, de "palhaço da fé".
Como Marcelo Rossi, que reúne milhares de pessoas em frente ao seu altar abusando das palavras nas suas homílias, padre Vitor também foi um pregador carismático dos romeiros que não consideravam suas devoções cumpridas se não pudessem pedir sua benção.
" Dotes de comunicador não faltaram ao padre Vitor. Ele não aceitava é que este seu carisma fosse confundido com santidade" , escreveu o padre Júlio João Brustoloni no seu livro sobre a vida do sacerdote, que arrastava multidões em suas andanças com a imagem de Nossa Senhora Aparecida pelos país.
Rossi ganhou a simpatia das pessoas, tem um programa na Rádio América de São Paulo, líder de audiência no seu horário, e ganhou o mercado fono gráfico. Na época do velho padre, o marketing na mídia não era tão agressivo. Mesmo assim participou em 1969 de um dos primeiros programas dominicais da televisão brasileira, comandado por Sílvio Santos, gravou um disco compacto e fundou duas Rádios: primeiro a de Campos do Jordão, em 1947, e quatro anos depois a Rádio Aparecida.
Nas emissoras, padre Vitor era locutor e em seus programas, já em 1954, falava de questões sociais, como salário justo e reforma agrária. Em 1967, sentiu o peso da censura do governo militar. Ousado, leu a Declarações dos Direitos Humanos. Não deu outra: a Rádio foi lacrada e tirada do ar. Também criou vários bordões, até hoje divulgados. entre os mais famosos estão " Caríssimos" , ao se referir aos fiéis, " Os ponteiros apontam para o Infinito" , programa do meio-dia, que fez até a véspera de sua morte, em 21 de julho de 1987, e a " Hora da Consagração a Nossa Senhora aparecida" .
O Memorial Padre Vitor, próximo à antiga Casa dos Redentorista, na Praça Nossa Senhora Aparecida, transformou-se num novo ponto turístico no centro velho da cidade. Lá estão seus restos mortais ao lado de outras cem urnas de redentoristas, inclusive dos primeiros padres alemães que chegaram a Aparecida. Ali também são deixados centenas de pedidos de graça ao velho padre.
No dia 12 de outobro de 1.998, durante uma missa na basílica Nacional, teve início o processo de sua beatificação. Esteve presente à cerimonia, o padre Antônio Marazzo, da Santa Fé, responsável pelos processos dos candidatos à beatificação. No Brasil é o padre Júlio Brustolini quem está cuidando do assunto e investigando os milagres atribuídos ao "santo padre".
Numa carta enviada ao padre Júlio, Cecília Calvi Datio, de Cachoeira do Itapemirim, ES, agradece por uma graça alcançada. Ela relata que tinha um câncer no estômago e que foi curada depois de pedir ao padre Vítor.
Outro milagre atribuído a ele é de uma criança de Franca, SP, que ficou totalmente paralisada. Num primeiro diagnóstico, os médicos disseram que era meningite. Depois, outros médicos detectaram encefalite. Ao meio-dia quando a voz rouca do padre Vitor anuncia "os ponteiros apontam para o infinito", mantido para Rádio aparecida, a mãe do garoto relatou que ajoelhou e pediu ajuda ao "santo padre" e a criança foi curada.
O terceiro milagre que está sendo analisado pelo padre Júlio é de uma senhora do Sul de Minas, portadora de câncer no seio. Ela conta que o câncer tinha "o tamanho de uma laranja" e que depois de orar ao padre Vitor, foi curada e desde 1990 está bem de saúde.
"Todos estes casos serão rigososamente investigados por uma junta médica do Vaticano. Só depois desse processo poderão ser considerados milagres", explicou padre Júlio. Ele não acredita que o processo vá demorar tanto, como o do padre José de Anchieta que há quase 400 anos foi beatificado.
Fonte: Revista Ecotour ( www.revistaecotour.com.br)